É que estamos em tempos difíceis, sabe moço. Tempos sombrios e perigosos, onde o azul do céu de janeiro pode ser engolido por nuvens cinzas que nos lembram a escuridão brava de uma tempestade tardia.
Mas o problema nem é esse moço. O problema é que ninguém repara nisso. Ninguém repara se a lua cheia decidiu vir pela metade hoje.
Tempo hoje em dia é contado pelo relógio digital. Os segundos perderam seu valor.
E a juventude de hoje é o reflexo de tanta ficção. Eles só ficam sentados, digitando, se comunicando com a tela e a tela os responde.
Ah moço, eu tô cansada disso! Quero contemplar esse céu cada vez mais raro de janeiro. Quero contar as gotas de chuva. Quero desperdiçar meu tempo com o que é vivo.
Pois é, moço, mas acontece que em tempos apocalípticos só vontade de viver não basta.
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